Salgueiro, uma escola de Vida Que faz um Samba Forte, alegre Brotado de um povo Forte, sofrido, Realizando a fotossíntese do amor Em forma de melodia, Ritmo e poesia
“Habitada por gente simples e tão pobre, que só tem o sol que a todos cobre, como podes Mangueira cantar?”
Essa pergunta que Cartola, um dos fundadores da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, faz no samba “Sala de Recepção”, composto nos anos 1930, eu me fazia quando, alguns meses após o falecimento de minha mãe, em 1975, comecei a frequentar os ensaios do Acadêmicos do Salgueiro, na quadra que ficava no Clube Maxuel, em Vila Isabel. Na época eu morava na Tijuca, esquina das ruas Barão de Pirassinunga com Bom Pastor, de frente para morro do Salgueiro. Ao ver na quadra de ensaios, sambando e cantando, algumas daquelas pessoas que eu via descendo a ladeira da rua Potengi, bem cedo pra trabalhar, e que retornavam ao anoitecer, subindo a mesma ladeira, com passos lentos, cadenciados, eu perguntava a mim mesmo: como podes Salgueiro sambar e cantar, apesar de séculos de escravidão? ( “Livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela”). Na busca de compreensão dessa manifestação de resistência cultural e de amor à vida, eu escrevi este poema.